Biografia [Biography]

Mira Schendel 

(Zurique, Suíça, 1919  – São Paulo, Brasil, 1988)

 

Nasceu em Zurique, Suíça, em 1919, e cresceu na Itália. Entre 1930 e 1936, fez alguns cursos de arte em uma escola livre e, segundo ela mesma, desenhava compulsivamente nesse período. Em 1937, ingressa na Università Cattolica del Sacro Cuore, em Milão, para estudar Filosofia. Com o acirramento do fascismo e do antissemitismo pelo início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), é obrigada a abandonar os estudos de filosofia devido a um decreto-lei que proibia a inscrição de judeus estrangeiros nas escolas superiores; assim, em 1939, aos 20 anos, deixa a Itália. 

 

Desloca-se continuamente pela Europa em um período pouco documentado de sua história, passando por países como Bulgária, Hungria, Viena, Croácia, Eslovênia. Após o armistício, em 1944, passa a viver em Roma com o seu então marido croata Jossip Hargesheimer, onde trabalhou na Organização Internacional para Refugiados, que orientava a emigração dos chamados "deslocados de guerra" [displaced persons] para países das Américas. Com isso, Schendel e Jossip partem, em julho de 1949, de Nápoles rumo a Porto Alegre. Na cidade, dedica-se aos estudos artísticos, trabalhando em desenhos, esculturas, cerâmicas, e frequenta a escola de Belas Artes. Nessa época, também aprende técnicas gráficas no SENAI, vindo a trabalhar em uma tipografia e em outras empresas do ramo. Passa a se dedicar como nunca à pintura a partir de 1950, prática que, segundo a artista, a ela se impôs como uma questão de vida ou morte. Nessa fase, é notável a influência de Giorgio Morandi sobre os temas e as paletas de suas telas, como as naturezas-mortas e os tons terrosos.

 

Sua participação na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, permite contatos internacionais e a sua inserção na cena artística da época. Dois anos depois, em 1953, muda-se para São Paulo e adota o sobrenome Schendel. Nos primeiros anos na cidade, Mira se aproxima do círculo de pensadores que logo se tornariam seus amigos e primeiros críticos – entre eles, Mário Schenberg, Haroldo de Campos, Theon Spanudis e Vilém Flusser. Em 1955, ela participa com suas pinturas da 3ª Bienal de São Paulo ao lado de Lygia Clark e Alfredo Volpi, já tendo feito sua primeira exposição individual a convite do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

 

Continua a desenvolver, no início da década de 1960, o seu trabalho em pintura, que foi se inclinando para investigações mais abstratas e menos figurativas em relação àquelas da década de 1950. Ao ser presenteada com infinidades de papel de arroz japonês, mergulha em uma série de experimentações com o material e dá vazão a interesses que tomam grande espaço em sua pesquisa artística, tais como: a expressão do vazio, a experiência do tempo, o estar no mundo e os mistérios da transparência. Toda essa investigação arrebata Mira de uma forma que a leva a pintar cada vez menos. Assim, a partir de 1964, cria a série Monotipias, em que desenhava de forma peculiar sobre o papel de arroz – ou, como diz o crítico Rodrigo Naves, “pelas costas”. Em 1966, nasce a série Droguinhas, elaborada com papel de arroz retorcido e trançado.

 

Em 1967, começa a inserir o acrílico nas suas obras, como nas séries Objetos Gráficos e Toquinhos. Também nesse período passa a introduzir no seu trabalho os decalques de letraset, que ganham proeminência diante da caligrafia explorada até então. Em 1969, apresenta a instalação Ondas paradas de probabilidade na 10ª Bienal de São Paulo – a obra constitui-se de fios de nylon pendentes do teto até o chão acompanhados de trecho do texto bíblico do Livro dos Reis impresso em placa de acrílico presa à parede. Segundo a artista, a obra trata-se de uma “tentativa de mostrar que o ‘lado atrás’ da transparência está na sua frente e que o ‘outro mundo’ é este”. Ao longo da década de 1970, segue as suas investigações acerca do processo de “transparentização” do mundo e da temporalidade. Em 1974, criou a série Datiloscritos, em que “desenhava” (datilografava) letras, sinais, palavras e sentenças com uma máquina de escrever de cilindro grande.

 

Na década de 1980, recupera vigorosamente seu interesse pela pintura. Produz as têmperas brancas e pretas, os Sarrafos e inicia uma série de quadros com pó de tijolo. Após sua morte, instituições nacionais e internacionais lhe dedicaram mostras individuais e retrospectivas, difundindo sua obra dentro e fora do Brasil. Em 1994, a 22ª Bienal Internacional de São Paulo lhe dedicou uma sala especial. Em 2007, suas obras participaram da Documenta 12, em Kassel, na Alemanha. Entre as individuais realizadas desde então, destacam-se: Mira Schendel, Jeu de Paume, Paris, 2001; Tangled Alphabets: León Ferrari and Mira Schendel, Museum of Modern Art – MoMA, New York, 2008/Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, 2009/Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, 2010; Mira Schendel: avesso do avesso, Instituto de Arte Contemporânea, São Paulo, 2010; Mira Schendel – pintora, Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro, 2011; Mira Schendel, Tate Modern, London, 2013/Fundação de Serralves, Porto, 2014/Pinacoteca de São Paulo, São Paulo, 2014; Mira Schendel – Poesie in Letraset, Neues Museum Nürnberg, Nuremberg, 2014; Mira Schendel: sinais/signals, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, 2018.

 

Entre as inúmeras coleções públicas nacionais e internacionais das quais as obras de Mira Schendel fazem parte, destacam-se: The Museum of Modern Art – MoMA, Nova York, EUA; Guggenheim Foundation, New York, EUA; Pinacoteca de São Paulo, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM SP, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM Rio, Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil; Tate, Londres, Inglaterra; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri, Espanha; Henie-Onstad Art Center, Høvikodden, Noruega; Kunstsammlungen der Stadt Nürnberg, Nuremberg, Alemanha.

Obras [artworks]
Exposições [exhibitions]